Design Fiction na prática

Trabalhos feitos por alunos da pós graduação do Istituto Europeo di Design

Lidia Zuin
7 min readAug 18, 2021

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No semestre passado, ministrei a disciplina Futurismo e Tecnologias Emergentes no curso de pós-graduação em Design Estratégico do Istituto Europeo di Design. Nessa terceira turma, tive a oportunidade de mais uma vez aplicar um exercício de criação de cenários futuros a partir da metodologia do design fiction. Usamos como base o jogo de cartas The Thing From The Future, uma metodologia gratuita e disponibilizada pela biblioteca do Teach the Future.

Como sempre, os trabalhos ficaram incríveis. Por isso, achei que seria muito relevante levar esse material para fora da sala de aula, de modo a inspirar outros projetos e também para fazer com que os profissionais envolvidos sejam conhecidos por essa sua competência. Sem mais delongas, aqui estão:

Desacelerando o Futuro

Projeto feito por Cynthia Sanches de Oliveira, Marcus Rocha Figueiredo Neves e Thiago Rodrigues Risi

Curta esse momento conosco. Que tal desacelerar? Aperte o play! =)

Num mundo daqui a duas gerações, onde os governos garantem a disciplina tendo acesso direto aos cidadãos através de chips implantados, qualquer ato de rebeldia ou insurgência contra a sociedade é freado por uma música que ativa frequências cerebrais. No mesmo momento, elas ficam calmas, entrando em estado zen, garantindo a ordem e a continuidade daquela sociedade.

Processo de Criação

De acordo com a dinâmica proposta, o grupo deveria escolher de forma aleatória uma opção para cada elemento do projeto: arco, cenário, objeto e humor. Cada um, de forma separada, escolheu um. Em seguida, nos juntamos para o momento da surpresa e de juntar as peças.

Qual a melhor forma de se manter a cidadania, senão através da música? Um som envolvente, que inibe qualquer sentimento agressivo e nos torna melhores.

Aldeia Maré

Projeto feito por Bruno Ponceano, Luciana Stein, Natalia Preto, Silvia Maule

“Parte do futuro é material e sólido, composto por prolongamentos do presente e desvios dele. Parte do futuro é também imaterial — são possibilidades no ar agenciadas por quem acredita e aposta nelas.”

— Frase inspirada em uma citação de Lama Alan Wallace, professor da tradição do budismo tibetano.

Processo de Criação:

Pensar um futuro próximo, daqui a 10 anos, nos pareceu uma ótima oportunidade para exercitar a imaginação e ao mesmo nos mantermos dentro de um limite visível para verificar como valores sociais e capacidades tecnológicas atuais se costuram. Se tivéssemos escolhido um futuro distante poderíamos ser mais amplamente criativos. A racionalidade, entretanto, guiou esse projeto que teve o arco de tempo de uma década, escolheu como terreno os oceanos, pensando sobre como seriam os prédios num cenário embalado pelo humor zen. A partir daí, o projeto listou meticulosamente as tecnologias atuais para alicerçar a nossa escolha de narrativa sobre o tipo de sociedade que viria a partir da técnica. Curiosamente o primeiro impulso foi criar uma distopia que prolongava alguns desconfortos do presente, até nos darmos conta que não seríamos felizes nele. Optamos por criar um cenário no qual gostaríamos de viver. “Aldeia Maré” é o retrato de pequenas comunidades autossustentáveis criadas sobre o oceano. São aldeias inteligentes que unem a o desejo por qualidade de vida ao desejo por desempenho — sendo necessário uma revisão do que esses termos significam.

Calculamos que uma crise de valores sociais já presente hoje em especial em razão da pandemia não seria esquecida rapidamente, mas seria propulsora de um futuro no qual os saberes de povos originários são resgatados criando um “futuro ancestral”, termo criado pelo líder indígena Ailton Krenak. Nesse lugar e tempo, as cidades inteligentes seriam substituídas por aldeias inteligentes nas quais a tecnologia está na aplicada à infraestrutura, mas isso não é tudo, a inteligência da conexão estaria presente também em comunidades auto geridas como tribos, organizadas em pequenos círculos de moradores que se apoiam mutuamente. Nosso desenho de futuro traz a tensão entre pertencer e aprofundar nossas raízes e ao mesmo tempo transcender.

Ponderamos sobre o seguinte ponto: investimentos na expansão das moradias para o oceano podem ser problemáticos. Dependendo da maneira com que são viabilizados correm o risco de reproduzir uma lógica expansionista de um modelo econômico que, de certa forma, o projeto se propõe a criticar

Futuro Pet

Projeto criado por Álvaro Fernandes, Filipe Trancon, Gabriel Lopes, Larissa Pedroso, Lucas Hamburabi, Monyque Klautau, Juliana Okuda

Roteiro: João Marcos Silva e Larissa Pedroso
Locução: Juliana Okuda
Sound Design: David Bassler

Processo de Criação:

Imaginar o futuro não é fácil. Ainda mais vivendo um hoje pandêmico e de crise atrás de crise. É difícil e também exaustivo. Muito. Foi isso que concluímos ao imaginar um futuro para daqui 1000 anos. Sim, é complicado pensar em idealizar o dia seguinte, imagina então idealizar o milênio seguinte. Nos propusemos a realizar este exercício na aula de Tecnologias Emergentes e Futurismo da 1ª fase da pós graduação de Design Estratégico do IED.

Imaginamos como seria o futuro daqui a 1.000 anos e com algumas palavras-chaves que norteiam esse amanhã.

  • A palavra transformar direcionou o período que imaginamos.
  • A palavra pets direcionou de que forma iríamos tangibilizar esse imaginário.
  • A palavra tatuagem direcionou o objeto que utilizamos como recurso nessa história.
  • A palavra zen direcionou o mood que pretendemos transmitir.

Dentre muitas discussões e reflexões, chegamos no seguinte futuro:

“No próximo milênio, a tecnologia e a rotina de trabalho deixaram a humanidade tão sobrecarregada, que para conseguir sobreviver a essa exaustão, os humanos se transformaram em PET dos robôs. Sim, PETs. Mascotes. Trocaram o livre arbítrio de suas decisões diárias por um controle que lhe desse uma sensação de bem-estar e conforto que eles não sentiam há muito tempo. Eles começaram a ficar zen. A sociedade ficou zen. Esse sentimento se tornou praticamente uma droga, aplicada em tatuagens a cada 2 anos para criar o efeito hipnótico em cada ser humano. Ele decidiu por isso. Ele estava tranquilo com isso. Estava?

Para expressar esse futuro, tivemos a ideia de criar uma locução em 1ª pessoa. Construímos uma personagem que vivia nesse futuro e estava em um período de renovar sua tatuagem. Nesta fase em que precisava renovar a tatuagem, essa personagem tinha devaneios sobre seu próprio livre arbítrio e de que forma ela tomava decisões sobre sua vida (ou quem tomava). O roteiro desta locução foi feito pela Larissa Pedroso e o João Marcos Silva. Quem deu voz e muita emoção futurística para este roteiro foi a Juliana Okuda, com edição de David Bassler.

Chegamos em uma fita gravada no futuro, que tenta transmitir o desespero e alívio que esse milênio entrega, refletindo que a sociedade pode trabalhar até a exaustão para chegar em um momento que seu novo Deus tenha sido programado por ela mesma.

Cringe Festival: Transformando Vergonha em Aprendizado

Projeto criado por Fabiana Pereira, Gabriel Coppola, Kherolayne Ribeiro, Vinícius Furtado.

Processo de Criação:

Para fazer a atividade o grupo selecionou as cartas (conforme imagem abaixo) e criou uma história.

Daqui uma geração (2100), acontecerá a décima edição do CRINGE FESTIVAL: Transformando Vergonha em Aprendizado, que é uma competição entre países, onde as pessoas vão ao festival de aprendizado na órbita do planeta Terra. A competição analisa os soft skills como: empatia, altruísmo e cooperação para que o aprendizado seja mútuo nos times que compõem os países. Cada país selecionado tem um representante e, cada um é responsável por compartilhar, em seus países, os aprendizados milenares que os anciões detêm e ensinam durante o festival. O Cringe Festival escolherá um vencedor do Festival, que acontece no estilo do Holi Festival, com muita alegria, esperança e prazer.

O grupo fez um teatro para representar o festival com um apresentador e 3 representantes dos seguintes países:

  • Tuvalo
  • Bielo Russia
  • Butão

No teatro teve-se o anúncio dos participantes, o primeiro dia deles e o último dia, onde foi anunciado o ganhador do Festival.

Abaixo tem algumas imagens ilustrativas do festival.

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Lidia Zuin

Brazilian journalist, MA in Semiotics and PhD in Visual Arts. Researcher and essayist. Technical and science fiction writer.